terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Pronúncia










Algo começado, não sei por que lado
paralelo à algum plano, como restos lançados
ao fardo temido de conter puro engano.

Sou retrato rasgado, desmilinguido
sitiado em qualquer canto, sem dimensão
num deslize insano de cavaco e soprano.

Enfadonho e “desritmado”, aforismo da aparência de ser
um legado ligado ao instante, tão adergado
como primeiros versos decorados no delírio de bar qualquer.

Fingir ser poeta é melhor do que sê-lo, afaga um ego pungente
floreado por vividas cortesãs, a arar o jamais germinado.
E na fantasiosa solidão de um quarto, desligado de tolos recados
  nesse esforço escavar profundo poço
em rocha com plumas e afagos;
essa odiosa ilusão, causa profundos espasmos
na dileta ausência do escárnio.

É quase um pecado externar essas vis lamúrias,
em palavras que só decretam amor abjeto
apenas o desejo de tê-lo, pueril, pleno e concreto
e quem sabe, demarcado no profundo inverno que me resta,
na herança que fui, como pronúncia e esboço.



gianovik

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Ecos



 
A perda é sempre inevitável.
Estamos aqui, diferente do que pensamos, pra perder.

Até o mesmo o tempo desperdiçado, a ineficácia das atitudes, as lamúrias que não produzem fatos, não impedem o caminho de aprendizado, cedo ou tarde, todo vivente terá a lição que precisa, seja numa vida de esforço e perseverança, recebendo as dádivas de conhecimento em doses homeopáticas, seja numa escalada de ócio e desperdício sem precedentes, esse já medicado ao final em doses descomunais de sabedoria.

A vida é um presente, um presente único, onde não há vitoriosos.

Por que a grande vitória reside numa trama muito mais intrincada e elaborada, e essa vitória é que sinto ecoar em tons estranhos no meu íntimo, afirmando categoricamente : " - Não existe nada lá fora para ti". Por que o que importa, o que vale mesmo e o que vou levar como herança é aquilo que está dentro do meu ser. O que seduz é o que está na minha, na nossa bagagem espiritual. As "coisas" adquiridas não são vitórias, são meras consequências do prodígio em “emular” situações explicitamente fugazes. A vitória é uma jornada de tropeços, mas que sempre te arremessam em linearidade ao encalço dela. Penso sempre que se tivesse tido uma existência com total ausência de erros e fracassos, que tipo de ser arrogante e presunçoso não seria. Seria menos do que humano, mais próximo de um Hitler do que de um Gandhi.


gianovik



 




quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Contornos






Eu queria escrever ... escrever como antes,
 como quem não sabia pelo que escrever,
 e entoar cada sílaba como sinuosa :  poesia,
 sempre em breves instantes. 

Eu queria escrever, circular cada letra,
 empilhar as angústias num rodapé bem distante,
 quase dobrado, malfadado, 
como não visto antes, por si só : ilegível.

Eu queria saber, não lograr nem sentir, 
repicar meus sentidos na penumbra, 
cada letra esculpir a renúncia por ter, 
seus predicados perdidos; 
banidos : desfilar tal qual pena, 
que desenha sem traço nem falha, 
sem linhas quebradas quiçá reticências.




gianovik


sábado, 1 de fevereiro de 2014

O último poema - Manuel Bandeira




:-) Quem sabe sonhar um dia escrever e dizer tanto com tão pouco ... 


"Assim eu quereria meu último poema

Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais

Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação."
Manuel Bandeira )