sexta-feira, 19 de julho de 2013

Segunda consideração intempestiva


Um pouco de Friedrich Nietzsche :


O problema:

“Estamos estragados para a vida, para o ver e o ouvir corretos e simples, para a apreensão feliz do que há de mais próximo e natural (…) não estamos convencidos de termos uma vida verdadeira em nós (…), produzindo dragões conceituais, sofrendo, além disto, de uma doença das palavras e sem confiança em qualquer sensação própria, que ainda não esteja selada com palavras, como uma tal fábrica de conceitos e palavras sem vida, e, entretanto, estranhamente ativa, talvez ainda tenha o direito de dizer de mim cogito, ergo sum, mas não vivo, ergo cogito.”


A solução:

“Cada um precisa organizar o caos em si, de tal modo que se concentre nas suas necessidades autênticas. Sua sinceridade, seu caráter vigoroso e verdadeiro precisa se opor algum dia ao que apenas sempre repete o já dito, o já aprendido, o já copiado. (…) o conceito de cultura com uma physis nova e aprimorada, sem dentro e sem fora, sem dissimulação e convenção, como uma unanimidade entre vida, pensamento, aparência e querer.”

sábado, 6 de julho de 2013

Poesia de menino





Terça-feira, 26 e 27 de Maio de 1998

 
"Um dia te alcanço passarinho ,
não és tão alvo quanto a branca ;
canta ao som do meu grilinho ,
as campinas que o galo espanta .

Pela floresta faz teu ninho ;
pena que seja de tal altura ,
que até onde busco abrigo ,
vejo apenas a fartura ,
das tuas nuas madeixas ,
a farfalhar os ares , sem gorjear comigo." 1

gianovik 

1 -  Um verdadeiro achado. Ensaio poético de um tempo em que a felicidade margeou sua plenitude.


Às Seis Cartas



 

Terça-feira, 26 e 27 de Maio de 1998

 

 
"Falta o sopro divino as palavras ,
o incrível , o poder celeste.

Falta apenas a conexão mais simples ,
a conseqüência primaz da visão rudemente criada ,
a certeza da concentração energética luminosa interior
à alma.

A luz que herdei. Os sonhos ; e almejei a paz quando a força
tormentosa desencadeou nos gestos , nas expressões , a dor
violenta e a revolta sem veracidade.

O parto da vida proveniente da vida desconhecida ;
da refulgente e delirante escalada dos pensamentos ,
da medíocre reiteração dos sentidos opulentos e torpes ;
da inevitável presença divina na natureza em conflito ,
mergulho na cria "parturiada” daquele que é o todo ,
e que tudo contém sem estar contido .

No vernáculo das coloquiais intempéries ,
da simplicidade do beijo infantil , na flor que ao ser
colhida , brota o rubro tom da vida.

Ò espírito da virgem prometida ,
do licor dos seus olhos, da porta dos seus lóbulos
inebriantes, das viagens pelas encostas dispostas em
cada centímetro deste fausto corpo, turva-se
todo raciocínio.

Haverá eternidade , quando do refestelamento das mágoas ,
o afogar das dores.

Ò amor sem distâncias , sem dúvidas , sem insegurança .
Quando as mesmas moléculas de oxigênio vierem a preferir
nossos corpos como habitats itinerantes , a rejeitar
outro veículo qualquer , seremos uma única flor , mesmo que
contidos na convexidade da beleza e dos espinhos ;
não haverá cerceamento dos nossos desejos , da nossa dinâmica
emocional . Haverá energia , matéria , espírito e perplexidade
na vida , e perpétua será nossa divindade : és energia eterna em
mim , e sempre será ." 1

gianovik

 

1 - Escrevi seis cartas, de todas desisti do conteúdo, até que surgiram estas linhas acima. Por isso a poesia inicial tem este nome ( na realidade as seis cartas foram iniciadas no computador e ali mesmo feneceram. A emoção só flui na união caneta-papel, nunca me dei muito bem em escrever diretamente no computador. Todas estas linhas foram transportadas do caderno para o micro .

Ps.:  Um verdadeiro achado. Ensaio poético de um tempo em que a felicidade margeou sua plenitude.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Completo






Eu sei que posso fazer melhor.

Melhor do que ontem e de todos os
dias em que o melhor era o imperativo.

O que não posso é guardar aqui dentro, oculto,
fraudado como preso em luto perpetuo,
encapsulado em camadas de renúncia e solidão.

Inócuo ser contido; se expande e comprime
toda as artérias da alma,
paredes, ventrículos e hemisférios,
até que ensandeça a razão e trinquem-se todas
as armaduras e mascaras do molde frio da vida.

Que seja maior que toda razão e se propague.
Que a força e o desejo se satisfaçam por completo.
Que a luz ofusque os ditames lógicos e prenúncios intelectuais.
Que ele seja o todo.
Que seja íntegro … Que seja Amor.


gianovik

terça-feira, 2 de julho de 2013

Cegueira





 
Só sombras

Só sombras caminham ao meu lado.
Não há recado, diálogo
nada que traduza fausto legado
só a latência surda e abafada do tísico compasso.

As escuras não se profetizam versos
ardores penosos, banzo dos covis abafados
ternura no cintilar dos braços, cabelos, pêlos ouriçados
em consonância e luxúria com tenros pecados.

Só a vil transparência dos vultos
em negrumes fulgores, lado a lado
num cortejo solene e marcado.

E assim o amor foi guardado
exilado no interior ressequido
de cálices remissos, fétidos, enferrujados.





gianovik