Era
pra ser um poema.
Eu
queria mesmo era te desejar um poema, desses que levantam as folhas
do chão e as congelam no ar, causando uma pausa pra respirar e
absorver a magia sonora dos versos. Passei dias invocando essa veia
caótica que me leva a escrever mesmo sem rima ou métrica.
Não
veio. Não veio a rima, não veio o soneto, não apareceu sequer um
parágrafo ou uma poesia de cordel. Fiquei pensando comigo mesmo. Era
só isso que eu podia te desejar ? Dois ou três poemas passados
resumem meus anseios e minha capacidade de expressar meus sentimentos
?
Comecei
a ficar desesperado, pois datas não esperam inspirações, os dias
como um rolo compressor esmagando minha indecisão.
Mas
eu queria um poema. Pelo menos algumas linhas. Não sou capaz mesmo
de fazer poemas épicos, porque então essa mania de querer algo tão
complexo que supere o que já tenha escrito ou que congele o
sentimento pra eternizar algumas estrofes ?
Então
decidi abandonar a rima, as quadras, as linhas, o tempo, o que já
passou, o sentimento, a data, os anos, a comemoração, o sorriso, o
próprio intuito de escrever …. e passei a só ouvir :
Laço
de Fita
“Papel de bala dourado, presente pra laço de fita
ridícula minha intenção, enfeitar o que é tão belo,
fazer um efeito singelo, pra luz do sol confrontar,
como fazer do perfeito, pretérito mais que perfeito
com um ou dois adereços ?
Seria crime obsceno, devaneio divino,
roubo da cúria romana, descalabro sonoro
deter-me no gesto, de fazendas, seda e incensos
prorrogar meu martírio, nesta prosódia indigesta
e sob protestos, em atitude mesquinha
atirar seus presentes, ao solo espalhados
e num gesto egoísta, como plateia que sou
solicitar um gracejo, roubar teu presente
pois nada mais me restou.
Tirastes tudo de belo, que se podia almejar
arrancastes da natureza o melhor fruto,
a melhor colheita, as cores mais vivas,
o hálito mais tímido, o aconchego mais morno
como um laço de fita, poderia então te somar ?”
gianovik