O que se
pode escrever quando não se tem nada a dizer ?
Tem dias
que sinto inspiração pra escrever um artigo de folha dupla ou
começar um romance com metade do enredo já protagonizado na mente,
mas tem dias como hoje … Que a maldita Fábula da Mesmice me ataca
!!!
Mas o
mundo as vezes parece mesmo contaminado pela repetição crônica. O
sol nasce, o sol se põe, e nesse ciclo vicioso o mundo se entristece
com as horas consumindo cada momento de criatividade. Diga-se de
passagem falta de criatividade, pois me recordo que minha grande
diferença na infância foi ser um grande germinador de fantasias e
sonhos.
Era
fácil pra mim comandar as brincadeiras, imaginar os castelos,
delinear tropas e exércitos de inimigos nas muitas brincadeiras que
instintivamente “gerenciei” com meus irmãos e amigos.
Dizia :
- Ali tem uma montanha onde existem alguns arbustos com espinhos. Um
pouco acima nós vamos colocar as tropas a escalar o lado norte pra
tentar alcançar o acampamento inimigo.
E do
jeito que eu descrevia o cenário, ele se materializava na mente de
todos ao meu redor, podia ver no olhar de cada um, que eles enxergavam
cada aresta, folha, pedra, aclive e nuance da planície ou do
despenhadeiro evocado pela minha imaginação.
Era
imenso o poder da criação !! A imaginação fértil que até hoje
me move fez por muitas vezes da fantasia cenário milhares de vezes
mais emocionante do que o plano real.
Havia
dias que por teletransporte ou por ilusionismo era materializado
nesse mundo. E o mundo era perfeito. Viver era uma inversão de polos
onde o real era o imaginário e o imaginário era o real.
Mas a
vida é elemento ciumento e mulher vingativa ( porque nada pode ser
mais vingativo do que uma mulher magoada !), não admite realização
plena nem felicidade incondicional, e ela te puxa num espasmo errante
e te parturia de volta ao frio e seco resfolegar dos sentidos.
E você
percebe que estar vivo não é algo tão criativo assim.
É
vibrante e irrevogavelmente um deleite único fazer parte desse
plano, mas a lembrança que muitas vezes te contamina ao nascer
doutros paralelos, faz de cada elemento errante um herdeiro cigano de
um lugar antes vivido.
Por isso
que não se pode jamais cair na malha fina de aço da ociosidade.
Parar de criar ou de redefinir cada momento fatalmente nos fara viver
num plano de realizações mornas e enfadonhas.
Criar é
sempre bem melhor do que ser somente a criatura.
ps.: Ué
? E não é que deu pra escrever alguma coisa mesmo sem inspiração
nenhuma ??????
gianovik
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