Tive a sorte de nascer e crescer durante o regime militar, não pelo
regime, mas pelos benefícios que hoje são quase uma lenda.
Lembro das filas indianas matutinas no pátio do colégio, a organizar a entrada das classes e
cantar o hino à bandeira, ou qualquer que fosse o dia a celebrar com
a respectiva toada, da revista das professoras ao asseio pessoal (
unhas, cabelo, orelhas … é, isso já existiu ! ), das anotações
no caderno individual para repreender a mãe negligente, das aulas de
Religião, OSPB (Organização Social e Política Brasileira), Moral
e Cívica entre outras, dos cadernos de brochura que sempre
estampavam na última folha algum hino, de levantar para receber os
professores em sala, do silêncio que mesmo quebrado pela balbúrdia
comum às crianças, um mero soslaio dos olhos do mestre silenciava
os tagarelas, das tabuadas proferidas em pé à frente da classe em
ritmo descompassado numa mescla de sinais sem ordem e respondidas na
ponta da língua, da espera na ante-sala do diretor que nos fazia
chorar pela vergonha do mau comportamento. Lembro também das brigas
marcadas pro intervalo com os sempre existentes desafetos de sala, da
solução sem golpes baixos, sem sangue, pela imposição infantil da
força sem humilhar o colega de classe, do aperto de mão após o fim
dos embates.
Vale ressaltar que tudo isso ocorreu na década de 70, não no início
do século 20 como até mesmo eu relendo, parece ter se passado.
Hoje me deparo com escolas-abrigos, onde são um descarte dos filhos
e não fonte de sabedoria e moralidade. Adultos graduados que usam
seus celulares pra simples equações, de trabalhos escolares e
monografias coladas e copiadas ( quando não encomendadas ) da
internet, de pessoas inclusive com títulos "lato/stricto sensus" que não
sabem defender suas ideologias e escrevem como se fosse a primeira
vez na vida.
Mas não havia claro a tão sonhada liberdade de expressão e o
direito público ao voto tão reivindicado e justo pelo povo.
Entendam que em nenhum momento estou a defender o militarismo ou a
forma anti democrática como ele se institui em nosso país, estou a
defender o direito mais básico que sempre moldou a consciência e a
evolução dos povos : a educação, pois sem esse sustentáculo o
progresso caminha a passos tortos e desviado do propósito de
crescimento homogêneo, não gerando a mesma gama de oportunidades
para os indivíduos.
E esses abusos de cerceamento de consciência e aprendizado real,
estão culminando nas revoltas que se espalham por todo país
mascaradas sob o manto de centavos no transporte público. Até a
nação mais subdesenvolvida e engolfada pela propaganda enganosa da
"situação", um dia apela aos protestos quando vê comida em
excesso na TV e prato vazio na mesa, a própria mídia
inconsequentemente alvejou os próprios pés com propaganda enganosa
até que a população saltasse desse estado de hipnose e começasse
a sentir dor.
Hoje em dia a verdadeira mídia está aqui, na internet, onde se pode
falar a verdade ( e algumas mentiras claro ) sem cerceamento de
expressão ou barreiras políticas.
Essa foi a falha da mídia televisiva, não contavam com as milhares
de câmeras e vídeos dos celulares nas mãos de manifestantes,
transeuntes e curiosos, todos bombardeando a rede com a verdade sem
máscaras ou edições das centrais de vídeos privadas. Esse
movimento que se iniciou pelos falados 20 centavos de passagem, está
"desentalando" a voz e movendo multidões que antes não
conseguiam se unir com o foco voltado apenas para a corrupção ou
qualquer debate específico. Ninguém aguenta mais ver esses
desmandos como se fosse algum tipo de ficção ou mais uma novela em
busca de audiência.
Só nos restou ir pras ruas “quebrar” essa passividade mostrando
que não é necessária a violência pra mudar a consciência de um
povo.
gianovik
gianovik
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