Erigir a
vida é como construir mandalas de areia. Ter a consciência que por
mais delicada que seja e protegida das intempéries do mundo, o
mínimo descuido ou lufada de vento pode obrigar-nos a recomeçar
todos os anos, quiçá todos os dias. E uma mandala nunca é igual a
outra, porque a cada desfazimento a vida recomeça novamente.
E isso é
bom.
Viver
varias vidas em uma é privilégio de poucos. Recomeçar todo o
processo de escolher as cores, a geometria, as porções exatas de
areia, o terreno e suas proporções, e viver sob o processo de
eterna vigília, consciente e sábio da impermanência do próprio
esforço, é fonte de sabedoria e consciência da natureza do que
somos e do que "materialmente" nunca seremos, eternos.
Então começa
o verdadeiro crescimento do ser consciente de sua existência e de
suas limitações. Inicia-se o verdadeiro processo de aprender a
perdoar ao próximo, e principalmente, a si mesmo, daí agradecer
pelos seus decaimentos muito mais que pelas suas glórias. Não há
edificação maior do que a das más escolhas, dores cíclicas na
alma, lágrimas que há tanto sufocadas vem à tona. Não é um ato
de masoquismo vangloriar nenhum desses elementos, são o que menos
queremos e esperamos como propósito evolutivo, mas são com certeza
o caminho mais preciso e direto pro auto conhecimento.
Aproveite
a abundância de areia na natureza, ela será sempre bem vinda; e no
momento certo, retirar o entulho consequente de atos falhos,
principalmente dos fracassos que não foram diretamente ligados às
escolhas feitas, e que erroneamente absorvemos.
Recomece.
Esse dom esta presente nos seres mais fundamentais da natureza. Se
pararmos pra reparar por exemplo, num simples formigueiro que por
distração destruímos, aqueles minúsculos seres não hesitam um
segundo sequer após o alvoroço inicial, em instintivamente
reconstruir pacientemente sua mandala. Por que hesitaríamos então ?
Escolha
suas cores, suas porções de areia, não viva baseado em lembranças,
use-as como fonte de refinamento das formas que irá definir em seu
mantra de silício, e viva sim, do que ainda esta por vir.
gianovik
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