terça-feira, 21 de maio de 2013

14 anos




Quando tinha 14 anos, caminhava horas pelas ruas de meu bairro, batia canelas sem destino mesmo, tentava encontrar sentido nas pessoas que via, nos jardins das casas, nas crianças brincando nas garagens, nos carros brigando por espaços no trânsito, até mesmo no movimento das folhas que caiam dos vários jambeiros e mangueiras que faziam parte do cenário de cada habitação. A verdade é que não me encaixava em nenhum daqueles esteriótipos. Caminhava como um fantasma, a observar a vida como numa tela de cinema. Tinha 14 anos, e não me vislumbrava fazendo parte de nenhum molde cotidiano da existência social.

Nunca fui muito comunicativo, tornei-me quando a preguiça de escrever destravou a língua, mas nessa época, franzino, alto e tímido, não teria coragem de expor o ridículo de minha figura a análise coletiva, preferia ser aquela figura esguia e taciturna que girava pelos quarteirões tentando encontrar algum milagre ou propósito pra tudo que me cercava.

14 anos. Hormônios, puberdade, espinhas brotando como erva daninha, primeiros sinais de barba e ralo bigode. É, eu tinha motivos pra me sentir um estranho no ninho, um pássaro que não podia voar por ausência de todas as penas. Estava preso àquela realidade enfadonha, amarrado ao laço familiar pela total falta de referência de para onde ir. Só me restava caminhar como se pudesse distorcer os fatos e criar meu próprio mundo. Era um mundo só meu, onde a existência do todo não afetava meu ciclo existencial. Não podia imaginar o que ainda estava por vir, não sonhava com os amores que se sobreporiam aos anos, com as dores dos fracassos, com o sentimento de perda, com os beijos, cheiros, abraços, olhares de desejo, o arquejar dos corpos em êxtase, o andar de mão dadas, sentir o cheiro da pele aquecida no atrito dos corpos, o sabor de uma boca ensandecida de volúpia.

Tudo isso era inimaginável àquele adolescente que recentemente havia guardado no baú seus brinquedos de infância, que vez ou outra os olhava sofregamente com a ânsia de tornar a construir castelos, grandes batalhas, guerras de soldados, vitórias, heróis e bandidos, tudo isso perdido pelo morno escárnio da adolescência.

Mal sabia ele que as grandes batalhas ainda estavam por vir, e que todo lodoso e turbulento circo de relações humanas começava a erguer lenta e progressivamente seu palco de encenações.

A vida era mais previsível naquelas voltas pelo meu bairro, mas com certeza, bem menos emocionante, pois apesar das dores e vitórias, construiu-se o caráter e a dignidade de um homem.

Agora já era capaz de fazer parte do cenário, não mais um mero expectador.

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