domingo, 26 de maio de 2013

Giz de Cera






É numa dessas noites sem inspiração que me dou ao luxo de postar pelo celular.


 Revolvo o vazio, como se vazio possuísse conteúdo, buscando palavras pra expressar o insosso propósito de não ter absolutamente o que escrever. 


Queria a conspiração tão comum, quase emanada de outros mundos pra escrever o mais demente dos poemas. Contos e pensamentos edificantes nem sob a mira de uma arma ou sobre um cadafalso prestes a destampar estalando o pescoço. É o puro estado de catatonia querer escrever e não ter o promissor delírio da compulsão literária. Fico pensando nos escritores que em suas maquinas mecânicas do século passado, enrolavam a primeira pagina em suas traquitanas medievais e escreviam o clássico enunciado : - Era uma vez .... e ponto finito. A mente, o coração e o espirito como de comum conchavo traiam por completo sua obra sequer esboçada. Mas quem disse que tudo que se produz tem a obrigatoriedade de ser um marco, um divisor de conceitos ou mesmo um livro capaz de modificar o comportamento de gerações ? A verdade é que nada é mais edificante para o escritor, por mais que pareça contrário ao seu propósito, que o retumbante fracasso de uma publicação.

 Estranho concordo, mas possui a formula secreta de expor a falibilidade, a esporádica ausência de conteúdo, e principalmente, a natureza comum de um simples homem que por alguns momentos, dias ou alhures ao tempo, simplesmente desaprendeu a escrever. Foi conduzido por esse "buraco negro" à sala colorida de cadeiras miúdas de seu antigo jardim de Infância, onde lhe puseram o giz de cera nas mãos ainda inaptas e iniciou-se o trabalho das primeiras curvas e retas que formariam o seu intrincado dialeto.


É um processo necessário esvair-se de sua própria cultura e retroceder a suas origens pedagógicas, necessário talvez por que em algum momento de nossa existência, algum fato importante, uma peça mal encaixada, um caderno de caligrafia incompleto, uma brincadeira com final infeliz, um olhar de desagravo, deixou de compor a cadeia de informações que estruturou toda uma biblioteca mental. Buscar essas peças e como encontrar o dominó que faltava para permitir que a trilha de peças possa ter inicio, meio e fim na sua seqüência de desabamentos. Típica brincadeira de criança, mas frustrante quando falha por algo mal elaborado.


Para o autor a verdade é que é melhor escrever algo que produza efeito inócuo, que talvez não enseje o desejo do leitor sequer terminar a leitura, por tédio ou desinteresse, do que aceitar a  crueldade de por alguns instantes, desaprender como manusear um simples giz de cera.


Voltar ao principio, é descobrir que a inspiração não é um mecanismo automático ou uma maquina mecânica com suas engrenagens martelando letras. Inspiração vem quando a alma se preenche e quer transbordar, e a alma só derrama sua essência quando o coração assim a comanda.


Máquinas são máquinas. 

Somos apenas pincéis induzidos a soletrar a beleza da criação.




gianovik





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