Eu nunca quis tornar público nada daquilo que escrevo. Muito pelo
contrário, sempre rabisquei meus textos e esboços de poemas em
cadernos de escola e os guardava para mim. Tinha muitas idéias e
como não encontrava na minha infância ninguém que as
compreendessem, era mais fácil guardá-las como memórias ou mero
registro lacrado de meus pensamentos.
Aprendi a gostar cedo de poesias. Lia muito Augusto dos Anjos e
sempre fui fã incondicional de Olavo Bilac e Fernando Pessoa. Eram
poetas que nas suas linhas nitidamente introspectivas se assemelhavam
a minha própria sensação de exclusão do mundo.
Não sou poeta admito, muito menos escritor ou romancista, não vivi
a plenitude da vida para ter manancial descritivo ou imaginação
saturada suficiente para tanto, apenas faço esboços baseados na
minha limitada estadia por essas bandas.
Acho que a idade me libertou do senso do ridículo, permitindo que me
expusesse em público com toscos textos e poesias mornas e ensaiadas
antes de uma estréia digna.
Muitas vezes penso que escrevo por necessidade masoquista de me expor
ao ridículo. Sou um adulto desdobrando o dom secundarista de fazer
redações em ensaios floreados com palavras mais cultas e joguetes
de sinônimos e verbos.
Mas o que é o ato de escrever senão o literal desdobramento do
espírito do escritor em linhas difusas e elucubrações secretas ?
Qual ser apaixonado não se torna ridículo, patético diante do ser
amado ? Qual a diferença entre um escritor de poesia de cordel e de
um Saramago ? Ambos não expressam suas verdades, sonhos e fantasias,
seja por poucos parágrafos ou inúmeros volumes ?
A ficção de um escritor não passa da realização e projeção dos
seus sonhos em quem se aventura a ler seus textos. Não seria egoísmo
demasiado guardar para si mesmo a mais tosca poesia ou conto sem nexo
?
Escrever é o ato de psicografar o íntimo do autor, e nesse caso
sendo ridículo ou não, é necessária em algum momento a exposição
pública, mesmo que gere risos de galhofa ou lágrimas de emoção.
Escrever é a prova que a vida merece ser publicada, seja ela
complexa ou de curta duração. Partilhar emoções mais que um ato
de humildade é um ato de ternura por quem se atreve a passear pelo
íntimo do poeta, pelo desprendimento gratuito da alma do escritor.
gianovik
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