sábado, 25 de maio de 2013

Ensaio de um Penitente II






Eu nunca quis tornar público nada daquilo que escrevo. Muito pelo contrário, sempre rabisquei meus textos e esboços de poemas em cadernos de escola e os guardava para mim. Tinha muitas idéias e como não encontrava na minha infância ninguém que as compreendessem, era mais fácil guardá-las como memórias ou mero registro lacrado de meus pensamentos.

Aprendi a gostar cedo de poesias. Lia muito Augusto dos Anjos e sempre fui fã incondicional de Olavo Bilac e Fernando Pessoa. Eram poetas que nas suas linhas nitidamente introspectivas se assemelhavam a minha própria sensação de exclusão do mundo.

Não sou poeta admito, muito menos escritor ou romancista, não vivi a plenitude da vida para ter manancial descritivo ou imaginação saturada suficiente para tanto, apenas faço esboços baseados na minha limitada estadia por essas bandas.

Acho que a idade me libertou do senso do ridículo, permitindo que me expusesse em público com toscos textos e poesias mornas e ensaiadas antes de uma estréia digna.

Muitas vezes penso que escrevo por necessidade masoquista de me expor ao ridículo. Sou um adulto desdobrando o dom secundarista de fazer redações em ensaios floreados com palavras mais cultas e joguetes de sinônimos e verbos.

Mas o que é o ato de escrever senão o literal desdobramento do espírito do escritor em linhas difusas e elucubrações secretas ? Qual ser apaixonado não se torna ridículo, patético diante do ser amado ? Qual a diferença entre um escritor de poesia de cordel e de um Saramago ? Ambos não expressam suas verdades, sonhos e fantasias, seja por poucos parágrafos ou inúmeros volumes ?

A ficção de um escritor não passa da realização e projeção dos seus sonhos em quem se aventura a ler seus textos. Não seria egoísmo demasiado guardar para si mesmo a mais tosca poesia ou conto sem nexo ?

Escrever é o ato de psicografar o íntimo do autor, e nesse caso sendo ridículo ou não, é necessária em algum momento a exposição pública, mesmo que gere risos de galhofa ou lágrimas de emoção.

Escrever é a prova que a vida merece ser publicada, seja ela complexa ou de curta duração. Partilhar emoções mais que um ato de humildade é um ato de ternura por quem se atreve a passear pelo íntimo do poeta, pelo desprendimento gratuito da alma do escritor.


gianovik



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